segunda-feira, 9 de maio de 2011

Vergonha

E aquilo que ainda parecia recente de repente se torna tao distante que as datas e fatos comecam a se perder de tal modo que ja nao se pode ter certeza de onde tudo comecou e onde realmente acabou.
Sim, acabou.
Chega a ser absurdo como todos aqueles momentos que antes pareciam estar marcas a fogo em seu peito hoje lhe parecem tao disturvos que ele mal pode distinguir seus detalhes sem a certeza de estar se esquecendo de algo.
E` como se a ferida houvesse se curado.
Mas claro que, como qualquer outra ferida profunda, mesmo apos curada permanece a cicatriz. E nesse caso a ferida lhe dilacerou de tal modo que lhe parecia que a cicatriz jamais o deixaria esquecer a dor de quando aberta.
Porem em um dia qualquer lhe vem a surpresa.
Ao buscala para tortura-se como a tempo nao fazia, mas ainda lembrando-se de que com a dor lhe vinham junto lembrancas que o faziam sorrir ao menos que por alguns instantes, nao consegue encontra-la. Ele sabe que ainda a possui e chega ate a sentir sua presenca. Mas ao olhar para todas as marcas, deixadas em seu corpo pelos anos, ja nao consegue distingui-la.
Sente-se livre.
Percebe que muitas outras feridas ja foram, e continuam sendo, abertas, muitas vezes maiores do que aquela que a pouco buscava, e que todas elas deixaram, e continuarao deixando, marcas em seu corpo e alma. E entao ve que oque se deve fazer e expo-las e apenas orgulhar-se, pois sao elas a prova de que ele realmente viveu, e nao simplesmente passou por essa vida.
Mas mesmo assim ao finalmente encontra-la ele sente uma pontada.
Pois percebe que, entre todas as outras marcas espalhadas por seu corpo, essa e a unica que lhe corta o peito.